TRECHO: Entrevista de Malcolm X ao Young Socialist

Nova York, 18 de janeiro de 1965: O trecho que você lê agora da entrevista de Malcolm X ao Young Socialist está presente no livro “Custe o que custar”, um lançamento da Ubu que traz depoimentos e entrevistas do último ano da vida do ativista e pensador. A tradução é de Rogério Galindo.

Entrevista de Malcolm X ao Young Socialist: O pensador e ativista Malcolm X (reprodução).

Young Socialist: Como você define o nacionalismo negro, com o qual você se identificou?


Malcolm X: Eu costumava definir o nacionalismo negro como a ideia de que o homem negro deveria controlar a economia de sua comunidade, a política de sua comunidade e assim por diante. Mas, quando estive na África em maio, em Gana, conversei com o embaixador da Argélia, que é extremamente militante revolucionário no verdadeiro sentido da palavra (e tem credenciais nesse sentido por ter levado a cabo uma revolução vitoriosa contra a opressão em seu país). Quando disse a ele que minha filosofia política, social e econômica era o nacionalismo negro, ele me perguntou com muita franqueza, bem, aonde isso o levou? Porque ele era branco. Ele era africano, mas era argelino e, ao que parecia, era um homem branco. E ele disse que se eu definir meu objetivo como a vitória do nacionalismo negro, onde isso o deixa? Onde isso deixa os revolucionários no Marrocos, Egito, Iraque, Mauritânia? Então ele me mostrou onde eu estava alienando pessoas que eram verdadeiros revolucionários dedicados a derrubar custe o que custar o sistema de exploração que existe nesta terra. Então, eu tive que pensar muito e reavaliar minha definição de nacionalismo negro. Podemos resumir a solução para os problemas enfrentados por nosso povo como nacionalismo negro? E se você notar, eu não uso a expressão há vários meses. Mas eu ainda teria dificuldade em dar uma definição específica da filosofia geral que eu acho necessária para a libertação do povo
negro neste país.

Young Socialist: É verdade, como se costuma dizer, que você é a favor da violência?

Malcolm X: Eu não sou a favor da violência. Se pudéssemos trazer reconhecimento e respeito ao nosso povo por meios pacíficos, muito bem. Todos gostariam de alcançar seus objetivos pacificamente. Mas também sou realista. As únicas pessoas neste país que são convidadas a serem não violentas são os negros. Nunca ouvi ninguém ir à Ku Klux Klan e ensinar-lhes a não violência, ou à Birch Society1 e outros elementos de direita. A não violência só é pregada aos negros americanos e eu não concordo com ninguém que queira ensinar a não violência ao nosso povo até que alguém ao mesmo tempo esteja ensinando nosso inimigo a ser não violento. Acredito que devemos nos proteger usando de todos os meios necessários quando somos atacados por racistas.

Young Socialist: O que é responsável pelo preconceito racial nos Estados Unidos na sua opinião?

Malcolm X: Ignorância e ganância. E um programa habilmente desenvolvido de deseducação que anda lado a lado com o sistema americano de exploração e opressão. Se a população americana inteira fosse apropriadamente educada – e por apropriadamente educada quero dizer receber a imagem real da história e das contribuições do homem negro – acho que muitos brancos seriam menos racistas em seus sentimentos. Eles teriam mais respeito pelo homem negro como um ser humano. Ao conhecer as contribuições do homem negro para a ciência e civilização no passado, o sentimento de superioridade do homem branco seria pelo menos parcialmente negado. Além disso, o sentimento de inferioridade que o homem negro tem seria substituído por um autoconhecimento mais equilibrado. Ele se sentiria mais humano. Funcionaria mais como ser humano, numa sociedade de seres humanos. Então é preciso educação para eliminar o racismo. E o simples fato de termos universidades e faculdades não significa que temos educação. As faculdades e universidades no sistema educacional americano são habilidosas em deseducar.

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Custe o que custar, de Malcolm X
Editora Ubu, 2025
Tradução de Rogério Galindo
256 pp.
R$ 79,99.

  1. Fundada nos Estados Unidos em 1958, a John Birch Society (jbs) é uma organização ultraconservadora de extrema direita, conhecida por seu anticomunismo radical e oposição ao governo federal. [N. E.] ↩︎

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