Na coletânea que cito, Rastejando até Belém, Joan Didion reúne uma série de ensaios que observam a contracultura, o movimento hippie, e a epidemia de drogas em uma São Francisco perdida, como escreve no ensaio que dá título ao livro.

A escritora estadunidense Joan Didion. Fotos de Brigitte Lacombe.
Esses tempos, lendo Rastejando até Belém, me vi em um estado de completo choque com a grandeza da escrita -e da mente- de Joan Didion. Conhecida por sua habilidade de transformar o cotidiano em literatura, Didion se destacou em um período e um cenário em que outras escritoras, como a até então desconhecida no Brasil, Eve Babitz, escreviam sobre temas semelhantes: A Califórnia, a cultura pop e os acontecimentos marcantes. Ainda que tenha escrito 5 romances, era sua capacidade de transitar entre temas reais e suas habilidades jornalísticas que a transformaram em um ícone cultural. Na coletânea que cito, Rastejando até Belém, Joan reúne uma série de ensaios que observam a contracultura, o movimento hippie, e a epidemia de drogas em uma São Francisco perdida, como escreve no ensaio que dá título ao livro. Joan juntava literatura, com o empirismo jornalístico e ia a campo para vivenciar, em primeira mão, sobre o que escrevia.
Além do lado repórter, Didion usava a escrita como um refúgio. Ao perder o marido, o também escritor John Gregory Dunne, e a filha Quintana, em um período de dois anos, lançou duas de suas obras mais emblemáticas: O ano do pensamento mágico e Noites azuis. Escrever, pesquisar, criar arte em períodos sombrios também faziam parte de quem Joan era.
O livro mais recente de Joan Didion, Notes to John, lançado postumamente, reúne algumas passagens de seu diário, que a autora escreveu durante tratamento psiquiátrico, sobre os problemas de alcoolismo da filha, o medo de envelhecer, sua ansiedade e a intimidade de Didion.
Para quem quer começar a ler a autora, recomendo essa ordem: O ano do pensamento mágico, Noites azuis e Rastejando até Belém. A autora que ganhou o primeiro caderno de sua mãe, aos 5 anos, recomendando que ela escrevesse o que sentia, jamais parou. Em seu ensaio Why i write, diz: “Deixe-me dizer uma coisa sobre o porquê escritores escrevem: se eu soubesse a resposta para qualquer dessas perguntas, nunca teria precisado escrever um romance.”
Rastejando até Belém, de Joan Didion
Editora Todavia, 2021
Tradução de Maria Cecilia Brandi
240 pp.


Gabrielle Lauria é graduando da FURG, professora de literatura, inglês e português e apaixonada por literatura feminina.
