A ágora moderna e a liberdade

Conectados com milhares de pessoas ao redor do mundo, somos indivíduos em crescente processo de solidão e, constantemente, instigados a criar relações pessoais e de consumo rápidas e descartáveis.

Foto Matteo Modica (via Unsplash)

A ágora moderna, criada pela rede mundial de computadores, como todo o espaço de comunicação e confronto de ideias, revela o melhor e o pior que há em nós.  Se, com o olhar atento, encontramos, nas plataformas virtuais, conteúdo extremamente relevante, somos, ao mesmo tempo e sem perceber, atingidos por uma infinidade de informações inúteis. 

Nas campanhas de marketing por trás do algoritmo, nos tornamos vítimas fáceis de muitas certezas e tão poucas dúvidas necessárias. Basta alguns minutos diante das telas, para encontrarmos receitas infalíveis de felicidade, sucesso e bem-estar. Como comportar-se, o que comer e vestir, filmes para assistir, livros a ler e assuntos sobre os quais necessariamente devemos opinar, tudo enfim, ditado por modismos e imposições momentâneas que, sem percebermos, se incorporam ao nosso inconsciente. Exercitar um questionamento crítico e constante contra esse universo de influências é o grande desafio diário para quem pretende pensar por si mesmo. 

Por outro lado, mergulhados nesse grande lago virtual, a refletir, nossa própria vaidade, como narcisos modernos, somos, cada vez mais, solitários, porque nos falta a insuperável interação com o outro. Falta-nos a poesia do sorriso, o olho no olho, a palavra trocada ou aquela simplesmente insinuada, mas compreendida com o gesto ou o olhar. Falta-nos, pois, a insubstituível conexão real e humana.

“O que esperar, contudo, quando tal debate fica viciado pelo uso proposital e reiterado de notícias falsas?”, escreve Luciana Konradt

Conectados com milhares de pessoas ao redor do mundo, somos indivíduos em crescente processo de solidão e, constantemente, instigados a criar relações pessoais e de consumo rápidas e descartáveis.  Nessa grande geleia moderna, se a propaganda “enganosa”, aliada aos recursos da inteligência artificial, provoca prejuízos irreparáveis aos consumidores individuais, seu potencial de dano é infinitamente multiplicado quando a vítima é um país inteiro. Quando o conteúdo falso, disseminado como vírus, por meio de robôs, pessoas mal-intencionadas (ou incautos e desavisados replicadores), estimula movimentos de extrema direita, fascistas, discursos de ódio e visa atingir a credibilidade das eleições e de instituições como, por exemplo, o STF que, legitimamente constituídas, têm como papel primordial a defesa da constituição e dos valores democráticos.

A democracia, como expressão da vontade da maioria, que elege seus representantes, pressupõe o debate maduro e proativo dos temas de interesse da coletividade. Pressupõe o diálogo político e construtivo com todos os segmentos, em favor dos interesses da toda sociedade. O que esperar, contudo, quando tal debate fica viciado pelo uso proposital e reiterado de notícias falsas? Quando o que deveria ser terreno fértil de novas ideias e projetos para o país vira cenário lamacento de vídeos de gosto duvidoso e visível conteúdo adulterado? Não sei a opinião do leitor mas, em mim, essas dúvidas causam muita apreensão. Porque longe de representar qualquer ameaça à liberdade de expressão, coibir, por meio da lei, a “comunicação enganosa em massa” é garantia da normalidade democrática e da paz social. E de um futuro onde as liberdades sejam, de fato, preservadas.

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