Nestes tempos, sufocantes, Tião, você plantou ar. E com pulmões inflados de esperança é que continuaremos. Para que o seu descanso não seja em vão.

Tião,
assim te chamo sem nem ter te conhecido. Mas a intimidade que você me trouxe de meu país (e também de um bom tanto do mundo) sustenta o informal vocativo.
Você abriu nossos olhos com os seus. Você nos aproximou das riquezas mais profundas. Das desumanidades mais humanas. Dos cernes e dos interiores.
A primeira vez que ouvi seu nome foi numa aula de Geografia. Encanto total. Segui colecionando os cadernos em que a Folha mostrava suas expedições pela Amazônia, até o dia em que uma fila de gente me levou aos registros originais expostos no Sesc Pompeia. Obrigado por eles e pelos sons e pelo rio.
Se a Economia é o entendimento da movimentação de recursos, você fez jus ao seu diploma com lucidez: na fixação de um momento, movimentou os alicerces da justiça social e da consciência ambiental.
Seu grito em preto e branco segue em perene reverberação. Seu entendimento do futuro ancestral, também. A terra que hoje abraça seu corpo devolve o carinho reservado a ela por mais de vinte e cinco anos.
Nestes tempos, sufocantes, Tião, você plantou ar. E com pulmões inflados de esperança é que continuaremos. Para que o seu descanso não seja em vão.
Márcio,
Sertão da Farinha Podre-MG
24-V-2025.
Leia Também: Carta só para Nana Caymmi

