Carta só para Sebastião Salgado

Nestes tempos, sufocantes, Tião, você plantou ar. E com pulmões inflados de esperança é que continuaremos. Para que o seu descanso não seja em vão.

O fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado. Foto: Reprodução.

Tião,

assim te chamo sem nem ter te conhecido. Mas a intimidade que você me trouxe de meu país (e também de um bom tanto do mundo) sustenta o informal vocativo. 

Você abriu nossos olhos com os seus. Você nos aproximou das riquezas mais profundas. Das desumanidades mais humanas. Dos cernes e dos interiores. 

A primeira vez que ouvi seu nome foi numa aula de Geografia. Encanto total. Segui colecionando os cadernos em que a Folha mostrava suas expedições pela Amazônia, até o dia em que uma fila de gente me levou aos registros originais expostos no Sesc Pompeia. Obrigado por eles e pelos sons e pelo rio.

Se a Economia é o entendimento da movimentação de recursos, você fez jus ao seu diploma com lucidez: na fixação de um momento, movimentou os alicerces da justiça social e da consciência ambiental. 

Seu grito em preto e branco segue em perene reverberação. Seu entendimento do futuro ancestral, também. A terra que hoje abraça seu corpo devolve o carinho reservado a ela por mais de vinte e cinco anos. 

Nestes tempos, sufocantes, Tião, você plantou ar. E com pulmões inflados de esperança é que continuaremos. Para que o seu descanso não seja em vão.

Márcio,

Sertão da Farinha Podre-MG

24-V-2025.

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